Na conta do filho

Eu tenho me questionado, cada vez mais, sobre esse laço que nos ata de maneira tão forte e definitiva com nossos filhos. É um laço que, vejam só, está mais em nós mesmas do que neles. Explico: muito se diz que o filho tem que cortar o cordão umbilical, interpretado como “tem que ir pra escola”, “tem que ir dormir na casa de um amigo”, “tem que ir morar sozinho”, essas grandes transições da vida. Mas eu não ouço muitos comentários sobre a mãe (vou falar “mãe” porque é isso o que sou, mas quem for pai, tio, avó e se identificar com o que vou escrever, fique inteiramente à vontade) se revisitar, sobre a mãe fazer escolhas pensando em si mesma, sobre a mãe viver sem “estar conectada” a esse filho. Será que é possível para uma mãe fazer escolhas pensando no seu próprio bem estar? Hm…

Minha divagação de hoje é, também, uma implicância. Implicância contra mim mesma, diga-se de passagem. Por que raios as mães tem que colocar o filho no centro de tudo? Tudo o que elas escolhem, sempre tem que vir junto com a justificativa: “é melhor pro fulano” ou “ele prefere assim”. E, gente, vamos combinar, nem sempre isso é verdade. Admitir que você usa sling ou canguru porque é mais prático PARA VOCÊ, porque pode realizar algumas tarefas do dia a dia utilizando as duas mãos não vai fazer de você uma pessoa egoísta. Assumir que você parou de amamentar porque estava desgastada, não te torna a pior mãe do mundo. Admitir que contratou uma babá ou colocou o filho na escola porque você queria trabalhar fora não te leva pro inferno. E mais: admitir que você GOSTA DE TRABALHAR FORA também não vai fazer você passar a eternidade queimando no mármore. Tá bom?

Eu imagino que a gente tenha sempre em mente o bem estar dos nossos filhos, mas valorizo a verdade em todos os âmbitos, inclusive se a gente for pensar em educar pelo exemplo. Pra quê construir castelos que, sabemos, irão ruir? Pra quê sustentar uma “verdade”, em vez de dizer A VERDADE? Eu luto diariamente contra a ideia de que a mãe é um ser iluminado, acima do bem e do mal, perfeito, divino. Mãe é uma mulher imperfeita, como as demais. É alguém que ama muito, mas comete erros. É alguém que muitas vezes está privada de sono, está com fome, está sem dinheiro, precisa de lazer. E mesmo assim tem demandas que não podem ser adiadas. Em algum momento, toda a abnegação pesa. E não é raro que isso aconteça e a gente veja aquelas mães desgastadas, muitas vezes agressivas, “sem paciência pra choro de criança”. Vamos encarar: mascarar nossas necessidades e desejos não nos torna “mães melhores”, apenas nos deixa mais sobrecarregadas. E será que a gente precisa de mais essa? Eu não.

Com amor, da sumida

Samia-mãe.sm

 

Sobre Samia Mãe

Samia, uma mãe com dúvidas e muita, mas muita vontade de acertar. Acredito que conversando sobre as dificuldades, elas se tornam menores e o caminho fica mais leve e divertido.
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